sexta-feira, maio 30, 2008

NÃO CHORES POR MIM ARGENTINA

Vejam o que é Futebol meus caros leitores. Os detratores do Fluminense seguem creditando a qualquer adversário a superioridade sobre nossa esquadra. Não nego que o Boca Juniors é um desses times que confere uma dimensão de eternidade a mais crassa das peladas. Derrotou o Atlas e o Cruzeiro em suas respectivas casas. Mas, como lembrou o nosso Rei Nato após o jogo dessa quarta-feira, o Boca ainda não enfrentou o Fluminense no Estádio Mário Filho diante de 100.000 torcedores pó-de-arroz. Empatamos heroicamente na Argentina com a esquadra de Riquelme e ainda assim os idiotas da objetividade não conseguem vislumbrar o óbvio ululante. A fatura está liquidada.
Gostaria de celebrar a volta da leiteria. Fernando Henrique, um rapaz que só quer dedicar-se à salvaguradar a meta tricolor vem sendo injustiçado reiteradamente não só pelos entendidos como pelos próprios torcedores do tricolor. Façamos justiça: é um grande goleiro. Ele foi fundamental para o épico empate tricolor em Buenos Aires. Vejam que além das grandes defesas, a bola que estorou na trave confere as características necessárias para a confirmação dos poderes sobrenaturais que só a leiteria fluminense sempre teve. Um colega pó-de-arroz como eu disse que não sabia que força divina esteve ali presente par que aquela bola não entrasse. E eu lhe respondo com convicção: "A leiteria, a leiteria está de volta"!
Outro colega pó-de-arroz como eu me perguntara se o frango do goleiro do Boca seria obra do Sobrenatural de Almeida. Tudo me leva a crer que não. Como sabemos o Sobrenatural de Almeida teve sua época gloriosa na idade média e relegado a um plano secundário em nosso tempo vive impotente no seu quarto infecto no Irajá, operando suas influências horrendas a miúde. Acredito que o Sobrenatural de Almeida foi responsável pela perda do penâlti de Edmundo em São Januário. É claro que uma figura metafísica como ele poderia estar em Buenos Aires, em São Januário e mesmo no Morumbi, atrapalhando Boca, Vasco e Botafogo simultaneamente. Mas, tudo me leva a crer que ele estava concentrado no Vasco. Edmundo é um grande batedor de pênaltis na verdade. Quem atrapalha ele é a voz metafísica do Sobrenatural de Almeida. Edmundo é o tipo do sujeito que é preferido pelo Sobrenatural de Almeida. O Gênio Fronteiriço tem toda a personalidade talhada para atrair o vício funesto do Sobrenatural de Almeida de interferir na felicidade alheia. Ele sofre, se irrita, se descabela. Fazendo o Sobrenatural de Almeida mais feliz em sua doce vingança. O caso do goleiro do Boca é ruindade mesmo. Nós sabíamos que o time tricolor estava orientado a chutar sempre que possível. E isso me dá a segurança da classificação na quarta vindoura: de um lado os poderes sobrenaturais da leiteria; de outro, o galinheiro platense de portas abertas. Sobre o caso do Botafogo, o problema é psicológico. Já conseguimos ver no jogador de futebol um ser humano, mas às vezes esquecemos de lhe conferir uma alma. Se no lugar de Cuca tivéssemos um Freud na boca do túnel ou mesmo um padre, talvez a força anímica dos alvinegros estivesse mais virilizada. Então, é claro que o Sobrenatural de Almeida estava em São Januário que é um destino bem mais próximo de seu logradouro de habitação, o célebre quarto infecto no Irajá.
Os argentinos achavam que iriam intimidar os tricolores. A palavra madre circulava copiosamente na cancha. Mesmo depois da peleja, o técnico do Boca insistiu que o jogo não tinha sido de igual para igual. Que seu time era superior, mais experiente e que virá ao Maracanã buscar uma vitória. Faço das palavras de Tiago Silva as minhas. Ali ninguém é mais homem que a gente. É esse o tricolor que espero ver na quarta vindoura. Apupado pelo menosprezo do Boca, o time tricolor mostrará ao Boca quem é o Fluminense. Diante das condições matemáticas de classificação bastaria-nos a leiteria que está de volta para nosso regozijo. Mas, veremos onze homens em campo. Veremos o triunfo do homem e mais que isso veremos o triunfo do homem brasileiro.

sexta-feira, maio 23, 2008

CORAÇÃO DE LEÃO

Senhores, não é hora de quebrar lanças pelo estilo como preconizava o nosso velho Bilac. Só nos resta louvar o mágico, afável e épico triunfo tricolor. Os idiotas da objetividade, a crítica especializada insistia que experiência e a força física do tricolor paulista falariam mais alto. O berro impresso das manchetes insistia na vantagem do tricolor do Morumbi. E eu, atônito, seguia me perguntando aos amigos pó-de-arroz como eu se a crônica esportiva conseguia vislumbrar algo mais que força física e experiência como fatores determinantes no futebol. Não há dúvida, o tricolor Paulista tem uma saúde vacum, mas o tricolor carioca, esse sim, é o time das vacas premiadas. Além do mais, não estávamos disputando título de pugilismo ou telecatch. Mesmo assim o bravo Conca recebeu dois tapas estalados de contra-regra de filme sob o riso pusilânime do árbitro. Mas nos atenhamos ao caráter feérico do primeiro gol. Ouvi dizer de um ou outro membro da plebe ignara que Washington Coração de Leão era apenas um fazedor de gols limitado e que o Imperador esse sim era grandioso. Que Washington era um centroavante medíocre se comparado ao Imperador Milanês. Primeiro devemos lembrar que Imperador na Itália é romano e jamais milanês. E, depois só um gênio da cabeça à ponta dos sapatos poderia fazer um gol de calcanhar daquela maneira. A clavidência do toque, pensado, intencionado e executado, inclusive, com um certo grau de crueldade revelam a genialidade de nosso craque. Washington poderia ter pego a bola de virada e estufado a rede. Mas, ele preferiu um movimento mínimo e plástico para completar o desvio de Cícero. Latino por latino prefiro um Cícero, cultor da palavra, poeta e sábio que um Adriano sem Roma, um rei à milanesa. O fato de Washington ter sofrido de problemas cardíacos e ainda por cima ser diabético só fazem a sua figura mais intrincada, heróica e carambola. Não é qualquer reles mortal que vai a mesa de operação, passa pelo bisturi e segue jogando com esse amor. Talvez os idiotas da objetividade não tenham notado, mas pairava na cabeça de Washington um alo de santo ou herói desde o primeiro minuto de jogo. E, no ritmo de seu coração, ampliado pela angioplastia e pela inquebrantável energia da torcida pó-de-arroz, o time se desdobrava superando a tão decantada força do Morumbi.
Mas pensemos no desenho da batalha e na forma com que os desígnios da vitória foram construídos. Eu e mais 70.000 tricolores queríamos Dodô em campo. Sentíamos falta do sorriso de Dodô. E nosso estilista, nosso esteta vinha massacrado por uma viagem à Suíça para se defender do que não fez, do que não tinha culpa. Dodô vem sendo enjaulado pela apoteose da burocracia. Mas Dodô tem um sanidade mental de dar inveja. Pensei que veríamos um Joseph K. aturdido e cansado pelas incessantes chincanas jurídicas. Mas ele estava lá assinando a súmula com aquela cara de quem pensa na morte da bezerra. Se todos tivéssemos a tranquilidade de Dodô, o doutor vienense viveria de catar papel na rua. Dodô é um desses que não se descompõe diante de nada, nem mesmo do grito do rapa.
E essa alteração dá todo o caráter trágico à batalha de tricolores. Depois de uns cinco minutos insuflado pela entrada do craque, o fluminense começa a perder espaço na meia-cancha para o tricolor do Morumbi. A falta de Arouca que corre mais que personagem de desenho animado, abriu espaço para a correria obtusa do fortíssimo tricolor Paulista. Mas nesse momento o desenho da tragédia do tricolor paulista se figurava. Como um Napoleão na Sibéria, Muricy mandava seus comandados a frente sem entender que nem sempre avançar no território alheio é a melhor medida nas grandes batalhas. Muitos tricolores acreditaram que diante do gol de Adriano após cruzamento de Aloísio o Fluminense pereceria com uma laranja descascada. Mas era isso que precisávamos para a grande vitória. Precisávamos de um time encolerizado e apupado. Naquele momento nos tornamos onze rútilos epiléticos. Onze não, minto, éramos apenas 10. Dodô seguia com aquela mesma cara de quem pensa na morte da bezerra. E depois de seu gol, oportuno e desmoralizante como todo gol por debaixo das saias do goleiro, podemos ver seu sorriso. Deve-se lembrar que Dodô nem sequer pega a bola no fundo das redes e sai correndo como é de esperar nesses momentos. Ele já sabia que a vitória tricolor estava escrita há dez mil anos atrás. Ainda estávamos lutando contra tempo naquele momento na visão crassamente racional dos idiotas da objetividade. Ouvi que o São Paulo como um time mais experimentado ou resistiria a pressão tricolor ou faria outro gol no contra-ataque. Chances mil perdemos. Gabriel e Conca, sempre Conca. Mas, o destino iria premiar o nosso mais saudável jogador. Como numa tauromaquia de Goya maltratávamos o touro, mas esperávamos o último momento para desferir o golpe fatal. O Coração de Leão, o safenado, quase enfartou alguns tricolores. Não a mim que já sabia dessa vitória de cór. E a torcida tricolor viveu eternamente aquela fração de segundo entre a cabeçada e o transpasse da linha fatal. Assim na terra como no céu!

sexta-feira, maio 16, 2008

O IMPERADOR E O REI NATO

Pasmem senhores leitores e leitoras (pois é, dizem que eu tenho quase uma metade de leitoras entre os meus leitores), mas aqui no Inferno também tem tuberculose e sanotorinho. E, depois de longo e tenebroso inverno volto a incomodar meu cavalo e distilar algumas verdades extemporâneas.

Essa semana mais que o jogo entre tricolores tivemos uma batalha entre futebol e argumentos. De um lado a esfuziante atuação de Adriano que tem nome e futebol de Imperador. De outro lado a inquebrantável confiança de nosso Rei Nato Gaúcho em entrevista coletiva. O Tricolor paulista perdeu grande chance de fazer maior vantagem em cima do tricolor carioca. O Mesmo Rei Nato que errou em deixar o argentino Conca de fora, acertou em dizer que 1x0 no Morumbi é resultado para deixar o Fluminense ainda mais confiante para o duelo do Maracanã. Nas grandes guerras, como é o caso da Libertadores, batalhas no capo alheio, vencidas por diferença mínima, são de um alento quase afrodisíaco para o derrotado. O Fluminense sai fortalecido da derrota no Morumbi e aqui trataremos o São Paulo como uma ratazana prenhe enxotando-o do certame continental a pauladas. Esperamos que nosso Rei Nato entenda que a artilharia de frente deva ser constituída por nossos cavaleiros mais importantes. O quarteto fantástico não pode ser separado. Os três mosqueteiros sem Conca são como os três mosqueteiros sem Dartagnan. Nosso Rei Nato errou de novo ao tirar o Thiago Neves para coloca o Conca. A reclamação do garoto em sua saída demonstra a sua energia e vontade de jogar. E sabemos que a vontade move montanhas. Se o quarteto fantástico estiver em campo o tricolor fluminense fará a exibição de gala que tanto se espera do time de craques. E se o Rei Nato não pecar pela teimosia o Imperador chorará lágrimas de esguicho.