quinta-feira, janeiro 25, 2007

A FUGACIDADE DA LIDERANÇA

Senhores, não é hora de escrever bem. Fosse eu um Goethe na Itália escreveria pessimamente neste momento. A rodada dupla da noite de ontem no Maracanã foi arrebatadora. Os torcedores mais apaixonados assinalarão a reestréia de Carlos Alberto como ponto alto da noite. Os entendidos, por sua vez, consideraram a sua reestréia discreta. Estranha discrição essa de uma diva diante de mil refletores. O jovem tricolor volta ao seio materno com juras de amor. E comeu a bola desde o início do jogo. Sabe-se lá que forças ocultas ajudaram ao goleiro Adriano a impedir seu gol de falta. Carlos Alberto, filho pródigo, volta à casa e com ele os adversários parecem clowns de mil guizos. Em dado momento ele dá três ou quatro salames dionisíacos em um pobre marcador. E sem lembrar de seus lançamentos.
Mas não podemos deixar de louvar Alex Dias. O centroavante era dado como morto e enterrado pela imprensa paulista. Dirão os detratores do atacante que ressurreições são inexplicáveis. Mas Alex Dias não ressuscitou, pois nunca morreu. Sempre esteve salubérrimo. Precisava apenas do carinho de uma torcida que o apoiasse. E que torcida. Tricolores vivos e mortos encheram sua metade do anel e ainda tomaram grande parte do território botafoguense. Um amigo alvinegro insistiu que o gol fora feio. Gol feio? Por que? Pergunto a ele. Ao que ele responde: porque a bola bate na mão do goleiro antes de entrar. O que me fez achar o gol ainda mais belo. O chute oblíquo, o esforço do goleiro em evitar o gol, a forma com que a bola entra no cantinho dão ares épicos à jogada. E dramaticidade ainda maior, ganha o movimento como um todo pela completada de Rafael Moura. Sabemos que ele toca a bola depois de transpassada a linha fatal. Mas o gesto serve para confirmar duas coisas: que estava escrito que seria gol, naquele momento, de qualquer forma. E, também, que Rafael Moura é de uma saúde vacum e um ímpeto heróico. Não é a toa que ganhou a alcunha de He-Man.
Devemos lembrar que mesmo os heróis de desenho animado têm seus arreganhos de pundonor, de medo. Mas Rafael, limitado tecnicamente ou não, é capaz de dar a face à chuteira do adversário, de oferecer seu peito largo e épico de havaiano de filme às esporas dos defensores.
Dirão os idiotas da objetividade que o placar mínimo não configura uma grande vitória. Mesmo que o Fluminense não tivesse marcado seu gol mereceria uma vitória por pontos como no boxe. Se Fluminense e Friburguense tivessem lutado diante de juízes sérios a contagem das papeletas revelaria uma diferença intransponível entre as duas equipes. Depois do gol só restou ao Fluminense deslizar como um cisne de lado a lado. E Carlos Alberto, ao mesmo tempo, cerebral e impetuoso junto à torcida conduzindo, como um maestro, o olé magnífico e seu coro. Carlos Alberto liderava o meio de campo de cetro na mão e manto púrpura como um Rei Lear.
No banheiro após o jogo vejo um amigo pó-de-arroz como eu gritando: Líder! Líder! Líder! Apupado pelos torcedores botafoguenses que ironizavam o grito de liderança na primeira rodada, ele respondeu com pendor filosófico: A vida é curta! A vida é passageira! O Sábio do mictório nos mostrou aquilo que Sartre dizia. Cada momento é constitutivo de nossa existência. E feliz é quem sabe viver esse momento. Os tricolores podem e devem comemorar a liderança mesmo que curta e passageira. Pois passageira e curta é a própria vida.
Mas já ficou claro que somos candidatos inequívocos ao título. Quem sabe não lideraremos o campeonato de ponta a ponta? A máquina tricolor está de volta.Um clube como o Fluminense saturado de glórias, coberto de títulos quando estréia desse jeito, opera desse jeito em moto-contínuo. Ainda mais numa competição de tiro curto como a Taça Guanabara. Grite: - Líder! Faltam apenas quatro jogos para o título da Taça Guanabara! Se deus quiser!

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